Hugo Calderano fez sua estreia olímpica no Rio, em 2016 (Crédito: Mike Ehrmann/Getty Images)

Hugo Calderano fez sua estreia olímpica no Rio, em 2016 (Crédito: Mike Ehrmann/Getty Images)

Nesta semana, Hugo foi personagem de uma matéria no site oficial dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020. Leia abaixo em português:

Em um esporte largamente dominado pelos chineses, Hugo Calderano é um ponto fora da curva. Ele quebrou o teto de vidro do ranking mundial de tênis de mesa e é o primeiro latino-americano a chegar a sexto do mundo.

“Estou no Top 10 desde 2018. Isso é ótimo, principalmente pelo que significa para o meu esporte no meu país”, disse Calderano à Tóquio 2020.

Trata-se de um feito que Calderano leva muito a sério.

“Acredito que meus resultados inspiram outros atletas latino-americanos, mostrando a eles que é possível chegar ao topo vindo do nosso continente.”

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Escalar o degrau mais alto do ranking é secundário para o atleta de 23 anos. Ele está de olho na conquista de uma medalha em Tóquio 2020, tudo pela glória do seu país, o Brasil.

“Ser o número um do mundo é uma grande realização para qualquer atleta, mas meu maior foco e objetivo está em conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos. Sou movido por esses momentos e experiências”, disse.

Sua chegada à elite do tênis de mesa leva à modalidade um novo nível de entusiasmo em escala global. É também uma prova do aumento de popularidade deste esporte, especialmente no Brasil, onde o futebol segue com a preferência nacional. Mas Calderano acredita que seu sucesso pode mudar isso.

“O futebol é, de longe, o esporte mais popular do Brasil. Acho que, após a Rio 2016, as pessoas começaram a olhar mais para o tênis de mesa como um esporte dinâmico e divertido de se acompanhar. Espero que as minhas conquistas sigam ajudando a popularização da modalidade e inspirando a próxima geração do nosso país.”

Um prodígio do tênis de mesa

Calderano chegou a praticar vôlei e atletismo quando era bem jovem, mas foi o tênis de mesa que lhe despertou um interesse particular.

“Eu jogava pingue-pongue por diversão desde que era bem pequeno. Lembro que, quando comecei a praticar tênis de mesa no clube, descobri coisas que eu não sabia sobre o esporte e fiquei fascinado com aquilo.”

Dos 8 aos 13 anos, Calderano já demonstrava sinais de que poderia ser um atleta olímpico, treinando consistentemente em seu clube três vezes por semana.

Àquela altura, ele já havia se tornado o melhor mesa-tenista do Rio. Mas a falta de estrutura na sua cidade-natal estava sufocando o jovem Calderano. Ele, então, se mudou do Rio para treinar em tempo integral em São Caetano do Sul com a seleção brasileira, conciliando treinamentos durante o dia com os estudos à noite – e fazendo isso dia após dia para melhorar o nível do seu jogo.

“A estrutura para o tênis de mesa no Rio não era muito boa. Precisei me mudar para São Caetano, o melhor centro de treinamento do Brasil, quando eu tinha 14 anos para elevar o nível dos meus treinamentos e buscar minha carreira profissional no tênis de mesa.”

À medida em que se tornava um jogador melhor, Calderano teve de olhar para fora do Brasil em busca de um novo salto técnico, para competir em nível mundial.

Aos 16 anos, ele rumou a Paris para treinar, ainda que aquilo significasse morar sozinho e muito distante da sua família.

Todos os seus sacrifícios não foram em vão.

Em 2013, Hugo se tornou o mais jovem jogador a conquistar uma etapa do Circuito Mundial. Foi ainda o primeiro atleta a vencer no mesmo ano um título individual no circuito juvenil e outro no adulto. Em 2014, ele levou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude em Nanjing, na China, um feito inédito para a modalidade no Brasil.

Então, na Rio 2016, Calderano se tornou uma celebridade reconhecida.

Em todos os seus jogos, havia uma arena lotada de fãs, todos gritando seu nome como se fosse uma partida de futebol. O mais adorado pelos fãs era o então 54º colocado do ranking mundial. Ele não conquistou uma medalha olímpica, mas superou as expectativas de todos com sua performance contagiante no Rio, deixando adversários com a guarda baixa e vencendo veteranos como Tang Peng, de Hong Kong, e o sueco Par Gerell. Ele ficou em nono lugar na sua primeira participação olímpica.

Reinando como profissional

Aos 18 anos, Calderano se mudou para Ochsenhausen, na Alemanha, onde até hoje disputa a primeira divisão da Bundesliga, a liga alemã.

“Eu já tinha ido a Ochsenhausen para períodos de treinos e sabia que era um ótimo centro de treinamento. Quando fui convidado para jogar pelo time principal, aceitei prontamente. Foi uma grande virada na minha carreira. Tive a chance de manter um alto nível de treinamento e competição, o que me ajudou a melhorar minha regularidade.”

Sua experiência tanto em Paris quanto em Ochsenhausen teve um importante papel na sua evolução como atleta. Na mesa, ele é conhecido pelo seu jogo agressivo.

“Minha força e minha velocidade me dão muitos dos meus pontos. Meu estilo de jogo é agressivo e ofensivo, então tento usar isso como uma vantagem a meu favor.”

“Tênis de mesa é um esporte muito duro. Temos de trabalhar muito tecnicamente e treinar os golpes incessantemente. Eu sempre estou trabalhando em cima de alguns pontos específicos. Eu não tenho uma jogada de segurança, então o que você faz nos momentos importantes depende de vários fatores. Mas, em geral, eu jogo de forma bem agressiva nessas situações.”

Olhando para a sua forma de treinar e os seus hobbies, não é surpreendente que Calderano tenha chegado a um nível de jogo que nenhum outro brasileiro alcançou antes.

“Eu treino em torno de seis horas por dia, com muito trabalho físico também. A chave para mim é desfrutar e me divertir durante os treinamentos. A evolução é muito maior quando eu gosto do que estou fazendo. Por isso, meu preparador físico sempre propõe desafios divertidos e atividades alternativas, para que eu possa melhorar e me entreter ao mesmo tempo.”

A força mental é uma parte enorme do tênis de mesa, e a estrela brasileira da modalidade demonstra estar afiado neste aspecto ao conseguir montar o cubo mágico em uma média de 11 segundos.

“É um hobby legal e me divirto resolvendo o cubo no meu tempo livre.”

Ele tem uma coleção de 70 cubos em diferentes formas e tamanhos.

Desafiando a regra para Tóquio 2020

Se Calderano mantiver o seu ranking até o ano que vem, ele deverá enfrentar atletas chineses somente nas semifinais de Tóquio 2020.

“No tênis de mesa, ser um dos quatro primeiros cabeças de chave é importante, já que o caminho pode ser facilitado por enfrentar chineses somente nas semifinais. Mas, para mim, o mais importante é chegar a Tóquio bem preparado, pronto para vencer qualquer oponente e lutar por uma medalha.”

Calderano se tornou uma das principais ameaças aos gigantes do tênis de mesa chinês.

“Os asiáticos são muito fortes no tênis de mesa, principalmente os chineses. Meu maior objetivo, pelo qual eu treino, é vencer os chineses nos grandes eventos, como os Jogos Olímpicos, em que ele eles conquistaram a maioria das medalhas na história.”

O chinês Ma Long segue como seu mais forte adversário e Calderano espera ter a chance de enfrentar o ex-número um do mundo no ano que vem.

“Desde 2015, Ma Long venceu todos os grandes torneios e ele é o cara a ser batido. Ele tem lidado com lesões e talvez isso dê chance para que outros jogadores o desafiem em Tóquio.”

Com a presença de Calderano, já não soa mais impossível derrubar o reinado chinês. Nas Finais do Circuito Mundial de 2018, Hugo derrotou o líder do ranking Fan Zhendong nas quartas de final.

Ele também espera um novo duelo no ano que vem com o japonês Tomokazu Harimoto, quarto do mundo.

“Harimoto é um grande jovem jogador. Ele já venceu praticamente todo mundo no circuito e segue crescendo constantemente. Será interessante ver o seu desempenho em casa, em 2021.”

Sobre o adiamento dos Jogos para o ano que vem, Calderano diz: “Conversei com a equipe técnica para definir uma nova estratégia e diferentes objetivos para os treinamentos. No início, foi difícil mentalmente ver os Jogos Olímpicos serem adiados, mas, com o tempo, aceitei isso e já estou completamente focado na minha preparação para 2021.”

Enquanto mantém um olho na medalha e segue sua preparação para Tóquio 2020, Calderano também espera que o tênis de mesa leve inspiração às pessoas.

“Mais do que resultados, gostaria de ver crianças começando a jogar tênis de mesa e se divertindo com isso. O esporte pode unir as pessoas e mudar vidas.”

Por ora, a estrela brasileira tem apenas uma coisa para dizer aos seus fãs: “Quero agradecer a todos que dão apoio a mim e ao tênis de mesa brasileiro. Sempre me motiva ver as pessoas torcendo por nós e acompanhando os resultados. Não estaria aqui sem vocês!”